NOTA: Sermão pregado na Igreja
Presbiteriana de Santo Amaro em 28.07.2013, baseado em um texto meu
anteriormente postado no BLOG, atualizado para o contexto da visita do Papa ao
Brasil, no final de julho de 2013.
Leitura: Mateus 9.35-38
E percorria Jesus
todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do
reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades.Vendo ele as multidões,
compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustascomo ovelhas que não
têm pastor. E,
então, se dirigiu a seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os
trabalhadores são poucos. Rogai,
pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.
Introdução:
Certamente temos visto multidões,
idosos e jovens, enfrentando a chuva, a lama, o frio, a ausência de transporte,
a insegurança das cidades, para ver o Papa em sua visita ao Brasil, que começou
na segunda-feira, 22.07.2013, e se estende até o último domingo do mês. A mídia
tem divulgado a visita com tanta intensidade, que se você estava neste planeta,
nestas últimas semanas, não pode ter ignorado a presença do Papa no Brasil. Por
exemplo, a revista semanal de maior circulação e repercussão (VEJA) trouxe
reportagens de capa sobre o acontecimento em duas semanas seguidas. Como
avaliar a pessoa do Papa, a sua visita e os seus pronunciamentos? Como entender
as expressões de fé e devoção encontradas nos olhares das multidões? O texto de
Mateus 9.35-38 fala de multidões às quais não faltava religiosidade! Ao lado da
curiosidade, havia devoção, ensino dogmático, religião, mas eram ovelhas
"que não tinham pastor"! A sinceridade, mesmo presente, não era
passaporte para a verdade! E o pastor de que se fala no texto, é um só - Cristo
Jesus, fora do qual não há salvação. Quem é o Papa atual?
O cardeal argentino, Jorge Mario
Bergoglio foi escolhido Papa (e assumiu o nome de Francisco) em um dia
considerado por muitos “cabalístico” (13.03.13). Havia uma expectativa
em muitas pessoas e na mídia de que o novo líder da Igreja Católica fosse um
Papa “progressista”. Estes se espantaram com a sua posição em relação à união
de gays; à questão do homossexualismo, que hoje em dia é propagada como
“apenas” uma opção sexual; e sobre o aborto. Ele é contra, ponto final! Alguns
católicos se espantaram porque ele não colocou, de início, o
envolvimento social como prioridade máxima da Igreja. Em vez disso,
contrariou a mensagem que tem soado renitentemente ao longo das quatro últimas
décadas, especialmente em terras brasileiras, proclamada pelos politizados
“teólogos da libertação”, ou da natimorta “teologia pública”. Ele aparentou
priorizar as questões espirituais!
Desde o início do seu “Papado” certas
declarações chamaram a atenção, também, dos evangélicos. Por exemplo, ele disse
que a missão da Igreja é difundir a mensagem de Jesus Cristo pelo
mundo. Na realidade, ele foi mais enfático ainda e afirmou que se esse
não for o foco principal, a Instituição da Igreja Católica Romana tende a se
transformar em uma “ONG beneficente”, mas sem relevância
maior à saúde espiritual das pessoas! Depois, o viés mudou um pouco,
especialmente nesta visita ao Brasil. A ênfase passou para uma postura de vida
ascética e humilde, demonstrando uma frugalidade que, em uma era de opulência,
corrupção, apropriação de valores alheios e desprezo pelos valores reais da
vida, também soa saudável e pertinente!
Ei! Disseram alguns evangélicos – essa é a nossa mensagem!!
Bom, não seria a primeira vez na
história que um prelado católico reconhece que a Igreja tem estado equivocada
em seus caminhos e mensagem. Já houve um monge agostiniano que, estudando a
Bíblia, verificou que tinha que retornar às bases das Escrituras e
reavivar a missão da igreja na proclamação do evangelho, libertando-a de
penduricalhos humanos absorvidos através de séculos de tradição. Estes possuíam
apenas características místicas, mas nenhuma contribuição espiritual e de vida
que fosse real às pessoas. Assim foi disparado o movimento que ficou conhecido
na história como a Reforma do Século 16, com as mensagens, escritos
e ações de Martinho Lutero, em 1517. Lutero foi seguido por muitos outros
reformadores, que se apegaram à Bíblia como regra de fé e prática.
Será que estamos testemunhando
uma “segunda reforma” dentro da Igreja Católica? Se
algumas dessas declarações do Papa Francisco forem levadas a sério, por ele
próprio e por seus seguidores, vai ser uma revolução. Mas é importante lembrar,
entretanto, que proclamar a mensagem de Jesus Cristo é algo bem
abrangente e sério. Existem implicações definidas e explícitas nessa frase.
E a questão que não quer calar é: será que a Igreja Católica está disposta a se
definir com coragem em pelo menos nessas cinco áreas
cruciais? Examinemos uma a uma.
1. AS ESCRITURAS: Rejeitar apêndices
aos livros inspirados das Escrituras. Ou seja, assumir lealdade apenas às
Escrituras Sagradas, rejeitando os chamados livros apócrifos.Proclamar as
palavras de Jesus, nesta área, é aceitar tão somente o que ele aceitou.
Em Lucas 24.44, Jesus referiu-se às Escrituras disponíveis antes dos livros do
Novo Testamento, como “A Lei de Moisés, Os Profetas e Os Salmos” – essa era
exatamente a forma da época de se referir às Escrituras que formam o Antigo
Testamento, em três divisões específicas (Pentateuco, livros históricos e
proféticos e livros poéticos) compreendendo, no total, 39 livros.
Representam os livros inspirados aceitos até hoje pelo cristianismo histórico,
abraçado pelos evangélicos, bem como pelos Judeus de então e da atualidade. Ou
seja, nenhuma menção ou aceitação dos livros apócrifos, não
inspirados, que foram inseridos 400 anos depois de Cristo, quando Jerônimo
editou a tradução em Latim da Bíblia – a Vulgata Latina[1].
Evangélicos e católicos concordam quanto aos 27 livros do Novo Testamento, mas
essas adições à Palavra são responsáveis pela introdução de diversas doutrinas
estranhas, que nunca foram ensinadas ou abraçadas por Jesus e pelos apóstolos.
Além disso, na Igreja Católica, a própria TRADIÇÃO tem força normativa igual à
Bíblia. Proclamar a palavra de Jesus ao mundo começa
com a aceitação das Escrituras do Antigo e Novo Testamento, e elas
somente, como fonte de conhecimento religioso e regra de fé e prática. Se não
nos atemos a conhecer as Escrituras verdadeiras, caímos em erro, como alerta
Jesus a alguns religiosos do seu tempo, que apesar de citarem as Escrituras, se
apegavam mais às tradições do que à Palavra de Deus: “Não provém o
vosso erro de não conhecerdes as Escrituras, nem o poder de Deus?” (Marcos
12.24). O livro do Apocalipse, no final da Bíblia, traz palavras duras
tanto para subtrações como para ADIÇÕES às Escrituras: (22.18) “Eu,
a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se
alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os
flagelos escritos neste livro; (22.19) e, se alguém
tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua
parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas
neste livro”.
2. A MEDIAÇÃO COM DEUS: Rejeitar a
mediação de qualquer outro (ou outra) entre Deus e as Pessoas, que não seja o próprio Cristo. Não acatar a mediação de Maria, e muito
menos a designação dela como co-redentora, lembrando que o ensino da palavra é
o de que “há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo
Jesus, homem” (1 Timóteo 2.5). Na realidade, a Igreja precisa obedecer
até à própria Maria, que ensinou: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (João
2.5); e Ele nos diz: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém
vem ao pai, senão por mim” (João 14.6). Foi um momento
revelador da dificuldade que o Papa tem na aderência a essa mensagem da Bíblia,
observar sua homilia pública (angelus) de 17.03.2013. Após falar várias
coisas importantes e bíblicas sobre perdão e misericórdia divina, finalizou
dizendo: “procuremos a intercessão de Maria”... Ouvimos as
próprias palavras do Papa: “No dia seguinte à minha eleição como Bispo
de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa
Senhora o meu ministério de Sucessor de Pedro”.[2] Em
Aparecida, nesta visita ao Brasil, ele também disse: “Hoje, eu quis vir
aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da
Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latino-americano”. “Que Deus os
abençoe e Nossa Senhora Aparecida cuide de você”. Não é assim que irá
proclamar a palavra de Jesus ao mundo, pois precisa apresentá-lo como único e
exclusivo mediador; nosso advogado; aquele que pleiteia e defende a nossa causa
perante o tribunal divino. Para o Papa, “a Igreja sai em missão sempre
na esteira de Maria”, mas o Povo de Deus sabe, que a igreja verdadeira
segue a vontade de Deus, expressa em Sua Palavra.
3. O CULTO ÀS IMAGENS: Rejeitar as
imagens e o panteão de santos composto por vários personagens
que também são alvo de adoração e devoção devidas somente a Cristo. Essa
característica da Igreja Católica está relacionada com a utilização de imagens
de escultura, como objeto de adoração e veneração; e também precisaria ser
rejeitada.[3] Ela
contraria o segundo mandamento e desvia os olhos dos fiéis daquele que é o
“autor e consumador da fé - Jesus” (Hebreus 12.2). Proclamar a
palavra de Jesus ao mundo significa abandonar a prática espúria e humana
da canonização de mortais comuns, pecadores como eu e você, em complexos, mas
inúteis processos eclesiásticos, que não têm o poder de aferir ou atribuir
poderes especiais a esses santos. Proclamar a mensagem de Jesus,
seria abandonar a adoração e devoção à “Nossa Senhora Aparecida” e a tantas
outras “Nossas Senhoras” e ídolos que integram a religião Católico-Romana.
Vejam o que nos diz a Bíblia:
Salmo:
115.3 No céu está o nosso Deus e
tudo faz como lhe agrada.
115.4 Prata e ouro são os ídolos
deles, obra das mãos de homens.
115.5 Têm boca e não falam; têm
olhos e não vêem;
115.6 têm ouvidos e não ouvem; têm
nariz e não cheiram.
115.7 Suas mãos não apalpam; seus
pés não andam; som nenhum lhes sai da garganta.
115.8 Tornem-se semelhantes a eles
os que os fazem e quantos neles confiam.
115.9 Israel confia no SENHOR; ele
é o seu amparo e o seu escudo.
Habacuque
2.18 Que aproveita o ídolo, visto
que o seu artífice o esculpiu? E a imagem de fundição, mestra de mentiras, para
que o artífice confie na obra, fazendo ídolos mudos?
Jeremias
10.3 Porque os costumes dos povos
são vaidade; pois cortam do bosque um
madeiro, obra das mãos do artífice,
com machado;
10.4 com prata e ouro o enfeitam,
com pregos e martelos o fixam, para que não oscile.
10.5 Os ídolos são como um
espantalho em pepinal e não podem falar;necessitam de quem os leve,
porquanto não podem andar. Não tenhais receio deles, pois não podem fazer mal, e não está neles o fazer o bem.
4. O DESTINO DAS PESSOAS: Rejeitar o
ensino de que existe um estado pós-morte que proporciona uma “segunda chance”
às pessoas. A doutrina do purgatório não tem base bíblica e
surgiu exatamente dos livros conhecidos como apócrifos (em 2 Macabeus 12.45),
sendo formalizada apenas nos Concílios de Lyon e Florença, em 1439. Mas Jesus e
a Bíblia ensinam que existem apenas dois destinos que esperam
as pessoas, após a morte: Estar na glória com o Criador – salvos pela graça
infinita de Deus (Lucas 23.43 – “Em verdade te digo que hoje estarás
comigo no paraíso” – e Atos 15.11 - “fomos salvos pela graça do Senhor Jesus”), ou
na morte eterna (Mateus 23.33 – “Serpentes,
raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?”), como
consequência dos nossos próprios pecados. Proclamar a palavra de
Jesus ao mundo é alertar as pessoas sobre a inevitabilidade da
morte eterna, pregando o evangelho do arrependimento e a boa nova da salvação
através de Cristo, sem iludir os fiéis com falsos destinos.
5. AS REZAS: Rejeitar os “mantras”
religiosos, que são proferidos como se tivessem validade
intrínseca, como fortalecimento progressivo pela repetibilidade. É o próprio
Jesus que nos ensinou, em Mateus 6.7: “... orando, não useis de
vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão
ouvidos”. É simplesmente incrível como a ficha não tem caído na Igreja
Católica, ao longo dos séculos e, mesmo com uma declaração tão clara contra as
repetições, da parte de Cristo, as rezas, rosários, novenas, sinais da cruz
etc. são promovidos e apresentados como sinais de espiritualidade ou
motivadores de ação divina àqueles que os repetem. Proclamar a
palavra de Jesus ao mundo é dirigir-se ao Pai como ele ensina, em
nome do próprio Jesus, no poder do Espírito Santo, abrindo o nosso coração
perante o trono de graça (Filipenses 4.6: “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas,
diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de
graças”).
Conclusão:
Assim, enquanto acompanhamos a
visita, é verdade que podemos admirar a coragem deste homem, Jorge Bergoglio,
que tem se pronunciado claramente contra alguns pecados aberrantes que estão
destruindo a família e a sociedade. No entanto, muito falta para que a Palavra
de Deus e os ensinamentos de Jesus façam parte real de sua mensagem e de uma
igreja transformada pelo poder do Espírito Santo – como vimos em cada uma dessas
áreas mencionadas (e em outras, também).
Em toda essa situação, podemos
aprender algumas coisas: (1) Pedir a Deus que dê forças às nossas lideranças
evangélicas, e a nós mesmos, para termos intrepidez no interpelar de
governantes e da mídia, quando promovem leis e comportamentos que contradizem
totalmente os princípios que Deus delineia em Sua Palavra. Estes princípios
sempre são os melhores para o bem da humanidade, na qual o povo de Deus
(incluindo nossos filhos e netos) está inserido. (2) Exercitar cautela em nossa
apreciação e entusiasmo das ações e palavras do Papa – a idolatria e diminuição
da intermediação de Cristo continuam bem presentes em sua visão religiosa e na
Igreja que o tem como líder. Envolvimentos de evangélicos nessas celebrações são
totalmente desprovidas de base bíblica - representam um descaso por essas
profundas diferenças doutrinárias que representam a diferença entre a vida e a
morte espiritual das pessoas. (3) Clamar a Deus por misericórdia e salvação
real para o nosso povo e para a nossa terra. Como é triste em ver tantos olhos
e esperanças fixados em santos, mitos, misticismo e na pessoa humana, em vez de
no Deus único soberano. O Deus da Bíblia é a esperança de nossas vidas. É ele
que nos alcança e nos fala em Cristo Jesus, pelo poder do Espírito Santo. Esse
nosso Deus é real e eterno e não temporal como o Papa.
Solano Portela
extraído
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